segunda-feira, 2 de novembro de 2009

"A Dançarina"

A Dançarina


Uma mulher dançava caprichosamente num bar tradicional de Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, sobre uma enorme mesa de granito bem polido. A beleza e sensualidade do seu corpo envolviam os homens facilmente; pela elegância e perfeição de sua habilidade corporal. Suas pernas eram absurdamente grossas, os seios extremamente exagerados; tanto é que, os sutiãs que usava durante os shows arrebentavam com frequencia.

Quando isso acontecia jogava para os homens que enlouqueciam ainda mais, com aquela peça íntima. Colocava às mãos para tapar os seios, somente para fazer “suspense”; pois, logo tirava as mãos, porque fazia parte do show! Somente de calcinha, agachava-se com o dedo indicador na boca; a tirar o fôlego dos homens com a sua ousada apresentação. Acariciava uns, enquanto outros depositavam notas de alto valor em sua calcinha; eram recompensados com beijos ou “abençoados” com o calor dos seus seios enormes!

Quando o show terminava, muitos pediam numero de telefone, e-mail e convites mais ousados. Descia da enorme mesa com a ajuda dos seguranças, que de quando em vez tinham um árduo trabalho para conter os mais exaltados.

Vestia o enorme casaco ao entrar no camarim, e era sempre bem recepcionada pelas companheiras de trabalho, e logo seguia para o banheiro, para tirar o suor do corpo e purificar-se com a água pura e cristalina. De banho tomado, pegava carona com uma das amigas; que morava no mesmo bairro. Iam bem descontraídas como de costume, beirando o fantástico litoral carioca, vendo as ondas estourar violentamente nas enormes rochas da praia de São Conrado!

Já estavam em Botafogo, após vinte e dois minutos de trânsito livre. Passavam pela praia de Botafogo, já muito poluída pelos excessos extremos de lixos jogados pelos próprios banhistas.

O céu já estava claro, o trânsito era excelente, também pudera: era um dia de sábado. O veiculo entrava em uma pequena vila com algumas dezenas de casas, e às “guerreiras da noite” descem; e seguem num pequeno corredor estreito. A dona do carro entra na casa 20, já a outra entra na casa 28.

A mulher da casa 28 entra com muita cautela, para não acordar os filhos, que dormiam profundamente; a sonhar com os anjos! O menino de sete anos de vida usava uma toca azul; de um famoso personagem de desenho animado. A menina tinha poucos meses de vida, estava no berço de madeira, com alguns bichinhos de pelúcia. Deu beijo de bom dia nas crianças; e foi descansar. Estava exausta, porque trabalhou a noite inteira; queria apenas algumas horas de descanso.

Dormiu pouco, porque foi acordada pela algazarra dos vizinhos. Foi acordada pelas crianças que brincavam no pátio da vila. Abriu os olhos e deparou-se com o ventilador de teto que estava desligado; quando repentinamente uma borboleta adentra no quarto; a pousar em uma das suas dezenas de plantas.

Alegrou-se um pouco com a bela cena que via, levantou para preparar o café da manhã.
Jaime estava na sala jogando vídeo game, Pâmela ainda dormia de bruços. Quando viu a mãe passar pela sala, pausou o jogo, e correu para abraçá-la:

-Mamãe!

-Oi filho! Cuidou de sua Irmã?

-Sim!

-Como foi o dia na escola?

-Foi chato – disse Jaime fazendo cara feia.

-Por que filho? – perguntou a mãe curiosa.

-Porque a tia Talita não deixou ninguém brincar no computador – disse Jaime triste.

A mãe apenas olhava o filho triste, sem expressar nenhuma palavra. Sentia-se culpada por não ter condições de comprar um computador para o filho, que tanto lhe ajuda cuidando da irmã. Segurando firme uma das mãos de Jaime a mãe diz:

-Filho, quando a mamãe puder, compra um só pra você e para Pâmela. Mamãe está se esforçando filho, pra cuidar de você e sua irmã. Vou preparar a mamadeira da Pâmela.

-Eu sei mamãe, eu espero.

-Vem cá filho.

A mãe chamou o pequeno Jaime, abraçou-o com todo cuidado; e disse palavras dolorosas:

-Filho, se papai estivesse aqui, não estaríamos passando por tudo isso. Sinto todo santo dia a falta dele; e sei que você sente mais ainda. Mas, temos de ser fortes, resistir, lutar filho, lutar sempre. Conto contigo meu bem, você agora é o homem da casa! Perdoe-me filho, de colocá-lo nesta situação tão difícil!

A mãe chorava compulsivamente nos pequenos braços do filho, que naquele momento não fazia
ideia do sofrimento eterno da mãe.

-Mãe to com fome – disse o pequeno Jaime sem maldade.

-Mamãe vai preparar o chocolate pra você meu filho – disse indo em direção a cozinha; ainda sonolenta.

Jaime gostava muito de chocolate ao leite, e a pequena Pâmela, era alimentada somente com leite puro. Pegou um bule velho de alumínio, pusera três xícaras e meia de água para ferver; e colocou um pouco de pó de café no coador de pano.

Ainda cedo, mais ou menos 09h45min ou 10h15min da manhã. Foi até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, enquanto a água fervia.

O dia passava lento, o ruido do som da televisão lhe causava estresse, mas o barulho da água que caía da torneira da pia fazia-lhe bem; porque se imaginava com os filhos em uma bela cachoeira! Porém, esta rápida reflexão trazia-lhe saudades de outros tempos.
Por um momento lembrou-se do companheiro que lhe deixara alguns meses atrás. Foi um belo dia de verão, Elisa estava grávida de Pâmela, Jaime tinha seis anos.

Estavam de férias em um belíssimo paraíso ecológico na região serrana, a degustar da vida; a banharem-se na lindíssima cachoeira! Paulo, companheiro de Elisa, estava brincando com o pequeno Jaime, nas leves correntezas da cachoeira. Paulo tinha dez anos a mais que Elisa, sua fiel companheira. A relação entre eles era fantástica, nunca brigavam, estavam sempre de bem um com outro.

Todos faziam um pequeno lanche no jardim que beirava a cachoeira, quando repentinamente ouviram um estrondo enorme; vindo das rochas gigantescas. Ao olharem para cima, viram pedras enormes rolarem das imensas montanhas; e correram apavorados para um local seguro.
Todos estavam salvos, e descansavam em um local seguro. Mas, uma mulher que estava na multidão gritava desesperada pela filha. Vendo o desespero da mãe Paulo correra novamente em direção ao perigo natural. Elisa assistia tudo de longe, vendo o marido atravessar a cachoeira rochosa, que estava quase intransitável. Num pequeno descuido de Paulo, uma das rochas tremera levemente; fazendo-o escorregar bruscamente. Ficou preso entre as rochas, com um ferimento grave na cabeça; que estava sedenta de sangue.

A fatalidade fora tão rápida, que nem dera tempo de Elisa buscar ajuda. Isso porque viera em seguida uma fortíssima avalanche de água.

Elisa viu tudo aquilo, ao lado do filho Jaime, sem poder fazer nada, porque estava grávida de Pâmela. O pequeno Jaime chorava, chorava, chorava... Porém, nem mesmo as lágrimas de uma criança são capazes de salvar uma vida nessas circunstâncias.

A cachoeira transbordava rapidamente, engolindo-o por completo. Paulo sumiu em meio às correntezas. Aquela foi à última vez que, Elisa e Jaime viram Paulo, que morrera nas fortíssimas correntezas da mãe natureza, que estava em fúria!

A água toca levemente o fogo, fazendo um pequeno ruido e despertando-a daquela terrível lembrança de tempos de outrora. Pusera mais uma xícara no bule, para enchê-lo um pouco mais.

Pâmela acordou chorando de fome, Jaime ainda jogava na sala enquanto Elisa fazia o café da manhã. Levou a mamadeira para a filha, e pediu ao filho que vigiasse a irmã. Ainda estava sonolenta, mas o aroma do café lhe fazia bem, o cheiro estava agradável! Colocou apenas meia colher de açúcar na xícara, e derramou lentamente o liquido negro, que deveras estava bem forte.

Com Pâmela no colo, sentou-se no sofá da sala a olhar para janela, e ver o lindo dia de Sol. Pronto, estava novamente com os filhos; na sua paz sublime, a olhar para as suas crias; e lembrar-se das boas recordações que tivera em outros bons tempos!

Elisa não é somente dançarina, é também, mãe e pai de família, que sustenta os filhos a todo custo. Sua profissão é vistas por muitas pessoas como prostituição. Porém, essa foi à única maneira que encontrou para sustentar os filhos. E escolheu essa, pelo alto valor financeiro que a mesma lhe proporciona.

É dessa forma que ela sustenta os filhos, e não tem vergonha, porque também é uma profissão. Independentemente da profissão, e muito menos para que os outros pensavam, Elisa estava satisfeita; vendo o sorriso estampado no rosto das crianças; isso era o mais importante: ver a felicidade dos filhos; e nada mais...

Encerrado em 13 de agosto de 2009
Escrito por: Sanderson Vaz Dutra.

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