sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

"O Reencontro" - o último capítulo dos contos: "O Amor Ainda Existe" e "O Amor não Existe mais"

O campo agora era outro. Aromático, limpo, colorido e totalmente puro... Os ruídos deste campo eram fabulosos como uma canção de harpa, dedilhada por dedos femininos, suaves e quentes. O que se via agora era apenas a pureza da flor, das águas e das ninfas... O ar era tomado por uma tempestade de pétalas, que vagavam no ar como flocos de algodão.

Na terra fértil, flores e mais flores tremulavam com o delicado toque dos zéfiros. Ao profundo “infinito” da natureza, um pequeno lago transparente tremulava pequenas ondas com os passeios dos cisnes. A qualidade incolor da água permitia ver os peixes a olhos nus, que pulavam graciosamente de encontro à superfície; tal proeza que não se vê em qualquer lugar no mundo.

O pequeno Beija-flor se encanta com o novo mundo, repleto de belezas infinitas e castelos mitológicos. Seria o lendário Campos Elíseos? Ou apenas um mundo pós-Terra, para onde vão os não-pecadores?

Abre-se um horizonte verde, repleto de relevos equidistantes e algumas planícies. Num voo rasante, desce para matar a sede que o consumia; para repor as energias e reencontrar a mesma bela Flor, da qual se alimentara de seu néctar em outrora.
Sobrevoando o “novo paraíso”, via pedaços de algodões planarem rasantes, que se desprendiam das gigantescas árvores centenárias. A fauna acordava alegre; era visível isso claramente nos micos leões dourados, voando nos galhos tênues da savana divina.

Enfim, o astro rei surge discretamente, com seus raios dourados e penetrantes tocando o solo; atravessando as nuvens. Pequenas partículas de água, vindas das enormes cascatas celestiais, iluminadas pelo sol, evaporam-se no ar, resfriando o clima na região sagrada; criando o belíssimo arco-da-velha.

Num campo límpido próximo ao lago, flores rasteiras eram contempladas pelas borboletas, que brincavam alegres no parque natural. O Beija-flor voara talentosamente entre as borboletas; que congestionavam o caminho. Bailava no ar com delicadeza, graciosamente, tentando encontrar a Flor amada.

Não obstante, o clima mudou rapidamente. As nuvens rasteiras que ondulavam as montanhas aterrissavam o campo, cobrindo o sol pela metade. O pequenino Beija-flor refugiou-se para um galho duma pitangueira, e ali ficou. O céu chorava angelicalmente, com pequenos raios de luz, dando um toque colorido e divinal.
O pequeno príncipe de asas olhava para o céu manso, embora chuvoso. As gotas de prata banhavam-lhe o corpo como um calmante; e consequentemente diminuía sua angustiosa busca pela Flor desejada. O tempo intensificou-se ainda mais.
Relâmpagos clareavam os relevos opacos devido às sombras das nuvens negras, que vinham acompanhadas de raios e ventos moderados; o dia virou noite. O cheiro de água fresca era agradável, principalmente para as plantas, que esperavam por esse “banho divino”. O Beija-flor se sacolejava num galho tênue, esperando apenas o pequeno dilúvio passar.

O pequeno rio desaguava no lago a água da chuva, que descia tranquila e transparente. A tempestade diminuía rapidamente, as nuvens carregadas abriam caminho para o astro rei iluminar novamente a natureza; enquanto a leve brisa levava três folhas mortas. Os sapos saíam do lago para tomar ar, outros animais surgiam das tocas, era o fim da tempestade.

No topo das montanhas, em meio às rochas e a vegetação, uma linda Flor de beleza ímpar, cor azul e um perfume excepcional tremulava solitária em meio à neblina. Vivia isolada neste novo mundo, sem o seu amado Beija-flor. Foram muitos dias de solidão infinita. Sentia-se insegura, não podia se defender dos predadores naturais; esperava apenas a morte. Porém, nunca perdera as esperanças de reencontrá-lo.
Quando os raios do sol tocaram as montanhas, a sombra do Beija-flor, que parecia surgir do sol, lhe cobria por inteira. Enfim, após longos e longos dias, acontece “o reencontro”. Pode enfim degustar do néctar, se perder nas folhas perfumadas. Era o início de uma nova era, nasceria naquele local sublime “o mundo perfeito”; sem a presença do homem.

Seis meses depois, a Flor morre naturalmente, porém, suas folhas serviram de acalanto para o Beija-flor. Construiu um ninho, para abrigar seu filhote, fruto de um novo amor platônico que surgira casualmente; do mesmo modo que ocorrera com o seu primeiro grande amor: a bela Flor de folhas azuis...