quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"O Amor não existe mais"

O Amor não existe mais


Mais uma vez, ele voara para um belo encontro com a linda flor. O sol dessa vez era insuportavelmente cruel e Satânico. Pairava no ar, para observar seu habitat, como sempre fizera. Os lindos campos floridos e perfumados, aos poucos, eram devorados pelo fogo, que se alastrara rapidamente pela vegetação.

Sobrevoando o paraíso verde, lá de cima, via seus amigos animais, fugindo do inferno que assolara aquele lugar sagrado. Refugiavam-se para bem longe; em direção ao riacho de água pura e cristalina; porque a floresta era consumida pelo pelas chamas diabólicas.

O pobre Beija-flor estava desorientado, não soubera mais o que fazer. Do alto do céu, que não chorara para evitar a propagação daquelas chamas, o pobre animal entristeceu-se. Não havia mais ninguém, porque a maioria dos animais escapara. Porém, alguns morreram; devorados impiedosamente pelas brasas ardentes!

Olhou para terra em chamas, e seguiu a procurar um novo paraíso. Voara próximo a um pequeno rio de água doce e transparente; pinicando as asinhas diversas vezes. Bebera um pouco do liquido sagrado, para ganhar forças e continuar a voar. Mergulhara inúmeras vezes, refrescando-se nas águas calmas e puras. Voara até um galho seco de um cajueiro, a sacolejar freneticamente o corpinho miúdo, para descansar.

No solo, via uma jovem flor desamparada, que desabrochara timidamente; exalando perfume no ar, enquanto uma abelhinha “navegava” sobre suas pétalas tênues; e extraía o líquido açucarado de sua “boca perfumada!”. Repentinamente, após ver esta cena breve, lembrou-se da amiga que estava em meio às chamas satânicas; seu minúsculo coração disparara.

Voara em altíssima velocidade, para resgatá-la do perigo. Só havia fogo na floresta, se é que agora já não é mais floresta; é apenas um campo desmatado; coberto de cinzas, porém, ainda em chamas.

O pobre Beija-flor entrara em meio à fumaça corajosamente, para reencontrar seu grande amor. Se perdê-la agora, não terá mais seu néctar, e muito menos o seu perfume; que lhe purifica todas as manhãs de primavera...

O cenário real era triste, dolorido e desumano!... Ossadas de centenas de animais em brasas, juntas com os troncos das árvores frutíferas, que pagara com o mesmo sacrifício; por um ato cretino dos homens, em atearem fogo no habitat da mãe natureza...

Ao sobrevoar o local em chamas, via o maior dos desastres de sua curta vida: a pobrezinha da flor, sendo engolida pelo fogo impiedosamente. A tristeza invadia-lhe o coração sem pedir licença, a fumaça tapara-lhe à visão.

Tentara voar desorientado, porque não enxergara nada em meio à fumaça negra! E, acidentalmente, caíra em meio às chamas, que subiam com a forte pressão dos ventos. Morrera ali mesmo, triste e magoado com o céu, que chorava para ajudá-los.

Só após a tragédia, o tempo mudara instantaneamente, resfriando aquela terra; que naquele momento, era completamente dominada pelas chamas. As lágrimas que caíam do céu eram de tristeza e dor, por ver inúmeras vidas perdidas.

Infelizmente, nascemos para chorar; seja na dor, na morte de um ente querido, na alegria e tristeza. É isso que a vida nos proporciona.

O amor existe, a partir do momento em que vivemos, após a morte, já não existe mais...

Encerrado em 12 de outubro de 2009

Escrito por: Sanderson Vaz Dutra.

domingo, 18 de outubro de 2009

"Preso Injustamente"

“Preso Injustamente”


Não sei que mal eu fiz pra merecer sofrer injustamente, sei que meu pequenino coração, o qual nem ao menos recebera o pedido de perdão, sem antes mesmo de cometer um ato de pecado, sofre; porque paga por algo que nunca fez. Vivo trancado, porque não sei o que é essa tal liberdade, da qual os outros falam lá fora, porque de fato, não sei o que é isso; e certamente, jamais saberei, porque meu triste fim é cá, nesta fétida, triste e maltratada sela de madeira...

Outros pássaros que vivem cá nessa região, talvez meus irmãos, vivem lá nos ninhos das árvores frutíferas da floresta amazônica, olham-me de longe; e choram. Pessoas que cometem atos imperdoáveis lá fora, não são condenadas; e continuam soltas. Por que eu que nada fizera estou preso? Será que estou cometendo um crime pelo simples fato de nascer? Só porque tenho asas, tenho de ser preso e virar a “diversão” dos homens? Que mundo é este? Será mesmo que Deus existe? Pelo menos pra mim não, porque perdi toda à fé e esperança, que morrera para mim há muitos anos...

Se for para viver desta maneira, preferia não ter nascido, mas, vim da união dos laços de amor que os meus pais traçaram, para continuar a procriação da nossa espécie; porém, não adianta viver sem ser livre. Se alguém é contra mim, troque de lugar comigo, e saberás o que é ser condenado sem ter cometido crime algum.
Nasci para viver livre, conhecer a natureza e sentir o perfume das flores! Beber as águas das fontes inesgotáveis, deste imenso manto verde! Sobrevoar as árvores e ver as terras do Norte do Brasil!

Sou um pássaro, que vive triste e desanimado com a vida, porque sempre vivi preso, e nunca, nunca senti o “gosto” da liberdade. Só posso senti-la em sonhos, mas, quase não sonho, porque há gatos malvados para cassar-me; que circulam em volta da minha prisão de madeira durante a noite; e o velho que me prendes, dorme, e não vê nada.
Perco noites e noites de sono, e durmo durante o dia ensolarado; isso é, quando consigo, porque as pessoas gritam e muito cá, e é muito difícil pegar no sono.

Estou triste com Deus e com o mundo, porque nada fazem para me salvar. Se há justiça na Terra, por que não funciona? Alguém pode responder? Sei que há inúmeras respostas, mas, será que há solução? Digam-me? A única solução é a morte, porque só quando ela me chamar, o meu sofrimento eterno acabará; e talvez, viverei feliz no outro mundo... Isto é, se realmente existir outro mundo, porque caso não exista, minha alma vagará livremente sobre a Terra. Só assim, serei livre para sempre...

Escrito em 22 de novembro de 2008.

Autor: Sanderson Vaz Dutra.

sábado, 17 de outubro de 2009

"Noite Infeliz"

Noite Infeliz


Era noite de véspera de natal na casa de D. Damiana, uma simples dona de casa, avó de três netos, que ganhara do filho mais velho e da filha mais nova. D. Damiana, de tantas primaveras e mãos calejadas, cabelos brancos e amarelados. Tinha pele escura como à visão de um cego; olhos verdes claros e um rosto enrugado; castigado incansavelmente pelo tempo; que jamais lhe perdoara...

Estava alegre, porque enfim, toda a família estava presente, para festejar mais um dos dois mil e tantos anos do nascimento do menino Jesus!

Damiana estava com os três netinhos: Fábio e Julho; filhos de Mário; e Rodolfo, filho de Ana Paula. Todos estavam na sala, sentados num sofá vermelho que fora comprado num velho brechó; que é bem conhecido naquele pobre bairro da baixada fluminense, no Rio de Janeiro.
A vovó Damiana estava feliz, muito feliz! Olhava os três meninos, admirada e orgulhosa; porque eram fortes e bem viris! Além dos familiares estavam presentes o genro e a nora, que participavam desta bela ceia de natal!

A humilde mesa já estava arrumada: castanhas, uvas verdes, rabanadas, avelãs, maçãs, pudim, canjica, doce de coco, chester, molho a campanha, arroz com legumes, farofa temperada com passas, estrogonofe e outras coisas.

Os adultos conversavam na pequena sala, enquanto as crianças brincavam no quarto com o computador, navegando na internet.

D. Damiana estava ansiosa, porque faltava apenas cinco minutos para meia-noite. As crianças vinham eufóricas, alegres e sorridentes!

Talheres, guardanapos, pratos, tudo sobre a mesa farta; naquela noite especialíssima de natal. Pequenos enfeites estavam espalhados pela casa: árvores artificiais, bonequinhos de Papai Noel, lâmpadas coloridas e cartões musicais.

O relógio de parede “grita”, era exatamente meia-noite, enfim o natal chegou! D. Damiana era cumprimentada pelos netos, filhos, genro e nora. Enfim, depois de tantos anos, desde a morte de Francisco, velho companheiro de D. Damiana, a família não se unia para festejar o dia sagrado de 25 de dezembro; o dia do nascimento do menino Jesus!

D. Damiana se comovia a lembrar do velho companheiro, que sempre alegrava o ambiente; brincando com os netinhos e contando algumas anedotas aos filhos, genro e nora. Olhava para velha cadeira de balanço vazia; a qual já estava empoeirada; a mesma onde o velho Francisco descansava e assistia às suas partidas de futebol; uma das suas maiores paixões!
Duas lágrimas brotaram discretamente dos velhos olhos de D. Damiana, que chorava sozinha, sem esconder sua dor eterna. Mesmo assim a tristeza e a alegria caminhavam lado a lado, pela presença dos familiares e a ausência de Francisco. Ana Paula, percebendo as lágrimas da mãe, levantou-se levemente; para dar-lhe um caloroso abraço; e recebia nesse momento, o carinho de toda a família.

Todos oraram pelas as almas das pessoas que se foram; de olhos fechados, mãos dadas e coração aberto. Nesse momento o silêncio imperava, enquanto todos conversavam com Deus; agradecendo ou pedindo perdão; pelos infinitos pecados cometidos. Continuaram rezando por mais três curtos minutos.

Aos poucos, alguns abriam os olhos; enquanto outros continuaram a conversar com Deus. Ana Paula fora a penúltima a terminar a oração, porque D. Damiana continuara...
Estava com o rosto calmo, parecia estar sonhando acordada; porque a felicidade reinava aquele ambiente puro de amor! A pobre senhora que tanto esperara este momento único, depois de todos esses anos, estava feliz, em ver todas as pessoas mais importantes para sua longa vida, estava satisfeita.

Damiana continuava com os olhos fechados, isso após cinco, depois de a filha Ana Paula, terminar sua oração. Preocupado, Mário chama pela mãe, e não recebe respostas. Rodolfo, o neto caçula chama pela avó, sacudindo-a pelo braço, que estava gelado. As mãos que estavam juntas separaram-se bruscamente; jogando os braços para baixo: D. Damiana estava morta.
Todos choravam incansavelmente, a perda inesperada de Damiana, que se despedia para sempre dos seus entes queridos!

A última noite foi maravilhosa para D. Damiana, porque estava com todas as pessoas mais próximas ao seu coração. Porém, os familiares, infelizmente; guardarão para sempre essa triste lembrança; que fora para eles à noite infeliz...


Encerrado em 20 de junho de 2009.
Autor: Sanderson Vaz Dutra

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Amor Ainda Existe

Era um dia como outro qualquer. O sol brilhava mais do que nunca. Os pássaros bailavam no ar, e as flores se abriam timidamente, preparando-se, para um encontro amoroso com um lindo beija-flor.

O beija-flor, com todo o seu brilhantismo e elegância, voava rasgando o ar, iluminado pelos lindos raios dourados do sol; que refletiam suas penas multicores, que eram tocadas violentamente pelos raios ultravioleta.

Aproximando-se da bela flor, ele paira no ar, para admirá-la. Estica o pescoço graciosamente; verificando se há alguma abelha; e vê somente pequenas partículas de água, a deslizar suavemente num lindo tapete branco. Olhando às pétalas, o apaixonado beija-flor sentiu o perfume encantador da flor, que acabara de se abrir por completo. Ele foi em direção à ela...

A flor já estava acordada, esperando um suave e doce beijo do beija-flor, que vem todas as manhãs cumprimentá-la. Lá vem ele, com todo seu charme, pedindo licença a flor para beijá-la. Assim permitido, ele vai em frente.

Finalmente ele se entrega de corpo e alma à flor. Neste momento, ele só sente o perfume encantador desta linda flor, e saboreia o delicioso néctar, o seu alimento, a sua vida, o seu grande amor...