segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Meu Tesouro é uma Galinha

"Meu Tesouro é uma Galinha" é apenas um pequeno fragmento futuro de "O Velho das Montanhas", que conta a incrível relação de amor da velha Euzébia Milinalva, e a sua fiel companheira: a galinha Filó. Espero que gostem. Espero comentários!




“Meu Tesouro é uma Galinha”



Amanhecera um novo dia na bela e pacífica fazenda de São Vicente dos Milagres de D. Euzébia Milinalva. Vivera naquela região desde criança, onde pode ver todo o progresso da pequenina cidadezinha de Ana Lúcia, no interior do Rio de Janeiro.
D. Euzébia fora mãe aos vinte e seis anos; e com muito orgulho, porque sempre sonhara com esse dia esplêndido. Seu marido, Manoel Antônio, sempre lhe agradava com presentinhos, carinhos e palavras amorosas. Trabalhava duramente no campo; plantando, colhendo e cuidando dos animais que ali criara. Porém nem tudo dura por muito tempo.
No barulhar das folhas que se serravam umas com as outras, lá estava o até então, ainda “jovem”, bem de corpo e com um fortíssimo preparo físico invejável aos mais jovens da região. Cortara com fúria de leão os delicados e finos troncos de cana e separava-os; para pô-los dentro da velha e sucateada caminhonete da Ford, que funcionara a óleo diesel.
Em um dia nebuloso, com vendavais fortíssimos e trovoadas; D. Euzébia pressentira alguma coisa ruim, que estava prestes a acontecer. Falara com Manoel do pressentimento que tivera; e pedira ao companheiro com o coração em prantos, para que não fosse para o campo; porque temia por sua vida.
Manoel sentia-se orgulhoso por saber que era amado loucamente por D. Euzébia; mas, ignorou-a.
Fora a esmo para o campo molhado e lamacento de sua fazenda, dizendo para companheira que não se preocupasse porque era chuva passageira.
Lá da janela da casinha de madeira, ela observava o marido ao lado dos filhos Joaquim e Maria, aflita; ao lado do oratório com o crucifixo em mãos, implorando para que nada acontecesse ao seu velho companheiro.
Trovejava de “infinito” na pequena cidade de Ana Lúcia, e D. Euzébia ficara cada vez mais aflita. O velho candeeiro de querosene iluminava a sala; as crianças brincavam com um lindo cãozinho vira-lata que não ficara quieto um só instante. Euzébia por um momento se esquecera de Manoel e olhara as crianças, que subira as escadas apressadamente para dormirem.
Ao olhar para a janela, vira o seu companheiro debruçado à terra fofa e gosmenta.
Abrira a porta desesperada, mas, já era tarde: Manoel morrera de súbito, bem a sua frente. Chorava junto com os filhos a perda inesperada; mas, erguera a cabeça, e continuou sua vida na velha fazenda.
Vinte e oito anos depois.
D. Euzébia continuou a morar na fazenda de São Vicente dos Milagres. Os filhos já não moravam mais com ela, mudaram-se para capital carioca.
D. Euzébia fora até chamada pelos filhos, mas preferiu viver sua vida pacífica na fazenda de onde tem boas recordações.
Nos sagrados cinqüenta e cinco anos, ainda cuidava dos animais, em especial a galinha Filó, que sempre tivera presente em sua vida após a partida dos filhos. Filó lhe acordara todas as manhãs para alimentar os porcos que eram escandalosos e insuportáveis com seus berros de “trovões”.
Filó era como uma “filha” para D. Euzébia, vivia na casa de sua dona; ao contrário das outras que viveram suas vidas inteiras no maldito e fétido chiqueiro!
O amor dessa senhora pela bichana é algo inexplicável; era a sua outra metade não viveria mais sem ela.
Em um dia lindo de Sol, Filó mariscava milhos jogados ao chão, pelas mãos calejadas da pobre velha de cabelos amarelados e o olhar profundo de cansaço.
Atrás da cerca havia um pequeno jardim; de flores perfumadas e um pouco de matagal. Ao fundo do matagal uma movimentação estranha e cautelosa; era uma raposa faminta, que se ocupara naquele jardim para pegar sua presa.
Filó parecia “sorrir” ao brincar com D. Euzébia, de tão “feliz” que estava.
De repente sai à raposa feroz da “toca” em alta velocidade! Filó percebera o ataque, voara desesperadamente deixando penas no ar!
D. Euzébia assistia tudo, mas, nada pôde fazer para salvar Filó.
A pobre Filó não resistira mais, e foi pega pelos dentes afiados e recheado de saliva pelo pescoço. Filó tremera de dor na boca da maldita raposa que aos poucos devorando-ia sua presa.
D. Euzébia, depois de tantos anos voltou a chorar pela última vez, porque três meses depois morrera de tristeza, por não poder ajudar o seu tesouro, a galinha Filó...