sábado, 12 de setembro de 2009

Menina de Tinguá

"Menina de Tinguá" Parte I

Num local dominado pela natureza, até então naquela época intocável pelo homem; viviam animais de várias espécies! Cercado de relevos e poucas planícies, Tinguá era uma espécie de “paraíso” na Terra! A imensidão das árvores eram fascinantes! Milhares de eucaliptos enormes cercavam o extenso e sublime paraíso verde; onde as árvores frutíferas e não frutíferas brotavam a todo instante. As impurezas não existiam naquele lindo campo verde; que era coberto de vegetações infindas!


Entre os relevos, inúmeras cascatas de água cristalina, que brotavam das infinitas nascentes; que nasciam frequentemente.


No esplêndido céu azul, um enorme redemoinhar de aves negras, que ficavam visíveis quando não havia nuvens rasteiras; que de quando em vez, desciam na enorme serra. Ouvia-se perfeitamente o barulhar das folhas secas, que eram movidas do solo pela leve brisa rasteira! O solo era quase todo úmido; pela grande quantidade de água que havia no lugar.


A luz do Sol descia fraca, porque era interceptada por milhões de folhas verdes; que liberavam oxigênio, deixando o ambiente ainda mais agradável! Nos galhos maduros da amendoeira, dois macacos passavam as pressas; procurando na infinda floresta frutos para se alimentarem. No tremular dos galhos secos e tênues das gigantescas árvores centenárias pingando-iam gotas cristalinas de água pura; que caíam do alto das enormes montanhas esverdeadas pela vegetação; que brotava também nas gigantescas rochas!


Ao longe do coração de Tinguá, num largo e extenso campo aberto, há pequenas propriedades num enorme deserto verde; que abriga poucas famílias de agricultores. Tanto é que não era necessário pôr cercas ao redor das propriedades; porque o lugar era praticamente “inexistente” para o homem!


Próximo a cachoeira um casinha humilde de barro, com um único cômodo. Na mesma moravam um homem, uma mulher e uma linda menina! Mesmo com a grande precariedade da humilde casinha de barro; os pais faziam de tudo para ver o rostinho da menina alegre!


Como Tinguá fica há quilômetros de distância da capital, não havia como os pais custearem os estudos da bela menina; porque a vida rural não lhes rendia lucro, apenas a sobrevivência.


Como não tinha amigos passava o dia a ler os mais famosos autores da Literatura Brasileira; como Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio de Azevedo e outros. Sonhava em ir à capital do império! Ver as belezas descritas nos livros e deliciar-se nas águas da praia de Botafogo. Mas, era um sonho praticamente impossível, porque sua família era muito pobre.


E, voltava à realidade, vendo o bailar das borboletas; sentindo o aroma das flores e admirava a belíssima paisagem!


Estava sentada em uma pequena rocha a olhar o céu,enquanto às nuvens eram vistas em seus olhos "cristalinos" como o espelho;com uma cor azul metálica, subestimando até mesmo às estrelas!


De repente, uma voz feminina lhe chamou:

–Raquel! Venha o almoço já está pronto!

–estou indo mamãe!


E, ergueu-se pondo as mãozinhas nos joelhos. Quem bradava dentro da pequena casinha era Débora, mãe de Raquel.

–Onde está papai?

–Saiu para colher frutas, disse que não demorava.

–Por que não me chamou mãe?

–Porque você estava lendo filha! Tu sabes que eu não gosto de incomodá-la.


A menina encolheu-se, abaixando a cabeça tristemente a olhar para o chão. Mas, logo sorriu de contentamento, ao rever o pai:

–Oi minha flor! – disse o homem à menina.

–Oi pai.

–Você estava triste minha filha, o que houve?

–Você não me chamou para colher frutas!

–Oh! Filha! Não seja por isso! Amanhã iremos juntos.

–Está bem papai. Muito obrigada.


Agora assim! Com a presença de Antônio, à família estava completa; sem ele não havia refeição na casinha humilde de barro.


Sobre a pequena mesinha de madeira oca uma enorme moringa, uma bandeja enorme de arroz, caldo de feijão, salada de legumes e diversas frutas.
O Sol adentrava a casa com delicadeza, enquanto a pequena família de agricultores degustando-iam da saborosa refeição!


Após a refeição, a pequena Raquel fora sentir a brisa fresca da tarde; fora reencontrar novamente a natureza. Parou defronte a cachoeira; a olhar a corrente de água transparente. Sentara a beira da mesma, tocando a água com os dedinhos dos seus delicados pés! Via o reflexo da sua própria beleza a tremular nas águas calmas; e via os galhos dos gigantescos eucaliptos tremularem com o toque dos zéfiros!
Após um longo tempo no local sentira o rosto umedecer, e pousara as mãozinhas para colher um pouco de água fresca, para purificar-se com o “ouro transparente”.
Na grama rasteira dos extensos campos de Tinguá pastavam dezenas de gados, nas árvores frutíferas e não frutíferas centenas de ninhos de pássaros; ao longe, montes “infindos”, a cercarem o paraíso ecológico.


Entre as gigantescas montanhas, inúmeras cavernas escondidas nas dezenas de cachoeiras; que tapavam algumas riquezas escondidas pela enorme floresta. Milhares de folhas iam caindo no solo; mortas, velhas e secas! A água caía com tanta frequencia, que chegava a inundar alguns pontos da região; quando isso acontecia, as poucas famílias refugiavam-se nas montanhas rochosas; para se manterem seguras das terríveis enchentes! Na maioria das vezes, em que isso acontecia, muitas famílias perdiam o pouco que tinham nas malditas correntezas!


No pousar da tarde, em plena grama rasteira estava Raquel, a olhar para o céu; que ia acumulando algumas nuvens negras, porém, o Sol ainda estava à vista. Estava a sombra fresca de uma pitangueira, vendo o bailar dos pássaros no ar, enquanto degustava uma saborosa maçã verde que trouxera de casa.
Fechou os olhos.




“O Sonho” Parte II


Com os olhos serrados via outro mundo, de passeios a cavalo, carros, peças teatrais e as praias da capital carioca! Caminhava nos jardins floridos do passeio; olhava os artistas de rua fazendo piruetas e olhava os fies admirada; vendo-os em grupo a rezarem para os santos.
Olhava as escravas a limparem os peixes nas tendas, o jardineiro cuidando dos jardins, casais namorando nas pracinhas e algumas crianças a jogarem bolinhas de gude.


Andava mansa e alegre com os pais que também foram à capital. Ficara encantada com as perfeições das esculturas e dos sobrados que por sinal eram bem projetados.
O ar era agradável, assim como o das montanhas rochosas de Tinguá, que eram cobertas por infindas vegetações.


Quando ia em direção a praia do Flamengo, sentiu o corpo esfriar rapidamente; e quando pisava delicadamente na areia acordara assustada; com as nuvens negras tapando todo céu. E correu para casinha de barro para se proteger da chuva.
E todo aquele paraíso desaparecera num piscar de olhos. Seu coração entristecia-se por dentro; vendo as “coisas ruins” que aconteciam no lado de fora. O céu enegrecera-se por completo, deixando o paraíso verde sombrio e morto.


As gotas de águas estalavam constantemente nas rochas e na terra molhada, enquanto a pobre menina via as vegetações desaparecerem, devido à fortíssima neblina que descia rapidamente sobre a enorme serra.


Enquanto a menina olhava a forte tempestade, Débora estava próxima ao fogão a lenha, e Antônio com um cigarro de palha ao canto sala.


Raquel olhava triste o céu cinzento porque o mesmo chorava. Encostando-se a beira da janela, olhando o triste rostinho da filha, Débora pergunta:

–O que houve filha?

–Nada mamãe.

–Está com um olhar tão triste filha!...

–É o céu mamãe, está medonho! O tempo nebuloso me deixa assustada!

–Filha! – disse Débora pondo as mãos nos ombros de Raquel, e continuou: – A natureza tem dessas coisas; as plantas precisam de água; e nós também precisamos.

Raquel calou-se.


Após uma rápida reflexão, Raquel voltou a sorrir para o mundo; e recuou para dentro da propriedade; para pousar no colo da mãe:

–Vejo que me entendeu filha.

–Sim mamãe, perfeitamente.


Já era quase noite, a chuva estava fraca e o ambiente morto.
Vencidos pelo sono todos dormiram cedo, já que não tinham o que fazer. Antônio e Débora deitaram num colchonete; e a pequena numa caminha fofa, que fora comprada com muito sacrifício e suor.

“O Brilhantismo do Sol” Parte III


O galo cantava às 4h e 30min da matina, junto com o mesmo, os pardais também cantavam não coletivamente; porque eram milhares. O nascer do dia era lento; porém, esplêndido! A névoa rasteira deixava o “paraíso” invisível, tapando as belezas naturais. Os raios do Sol aos poucos clareavam a região montanhosa; que ainda estava coberta pela fortíssima névoa. As árvores estremeciam com os movimentos constantes dos pássaros, que voavam de galho em galho; e outros animais terrestres que habitavam a mesma, caminhavam a estalar as folhas secas, que já caíam mortas no solo.
Nas montanhas gigantescas via-se uma fraca luz amarelada, que anunciava o nascer do Sol! Pouco a pouco, a luz tornava-se forte; eliminando as nuvens rasteiras. Com a força dos ventos, as árvores “bailavam” paradas; e, consequentemente, as nuvens também desapareciam; deixando o céu totalmente limpo. Formou-se um lindo “campo azul”; aberto para as aves.


Por detrás das montanhas aos poucos ia aparecendo o Sol, tímido; porque reunia “forças” para nascer por completo. O intenso brilho do Sol era sublime! Os montes apareciam tímidos, e os animais saiam de suas tocas. As danças das aves eram fantásticas! Sobrevoavam próximas as cascatas enormes; dos gigantescos relevos infindos! As nuvens rasteiras eram evaporadas pelo calor do Sol, que já cobria todo o território de Tinguá, que nascia para um novo dia!


“A Agitação da Família Moura” Parte IV


Num fogão sustentado por tijolos de barro, uma leiteira de ferro que continha água era aquecida; preparando-a para o café. Antônio ainda estava na rua, porque fora comprar pão e queijo para o café da manhã; que era preparado por Débora; enquanto a pequena Raquel dormia profundamente...
Nos fortíssimos cânticos das cigarras a menina despertara lentamente do seu “delicioso” sono; que era acompanhado dos cânticos das araras; que invadiam a privacidade dos seus sonhos!


Como a pequena casa tinha apenas um único cômodo, o espaço entre eles era curto; quanto mais objetos adquiriam, menos espaços tinham. No entanto, o oratório fora construído no lado de fora; bem próximo a um pequeno lago que havia na propriedade.
Ao sair da pequena casinha de barro encontra a mãe defronte ao fogão; e fala gentilmente:

–Bom dia mamãe!

–Bom dia Raquel! O café está pronto.

–Sim mãe, eu vou lavar o rosto.

–Está bem, não demore.


E, seguiu alegre em direção ao lago de água transparente; para enfim despertar de vez do sono que lhe dominara.


Como de costume ajoelhou-se a beira do sagrado lago, para tirar as remelas dos olhos cor de estrelas e lavar seus lindos cabelos banhados a ouro. A transparência da água era tanta, que dava para ela ver perfeitamente os peixinhos miúdos; que nadavam entre as rochas. Ficava encantada com o espetáculo daquelas criaturas miúdas que brincavam nas águas limpas que brotavam das fontes inesgotáveis; que pareciam infinitas! Achava graça quando os peixinhos pulavam para superfície bailando no ar a fazer piruetas! E sorria para as plantas rasteiras, que eram sacolejadas pelos zéfiros da manhã sublime de primavera!

Dentro da pequena casa Antônio brada:

–Raquel! Venha, o café está esfriando.

–Estou indo papai.


E levantou-se rapidamente, levantando a saia do enorme vestido de cambraia; que ganhara de presente no seu décimo quinto aniversário de uma tia que mora bem distante.


No centro da casa havia uma pequena mesa redonda, forrada com um lindo pano azul claro; com desenhos de flores e animais. Sobre a mesma, quatrocentos gramas de queijo parmesão e uma leiteira que continha café forte.
Antônio estava orgulhoso de si mesmo, por ter uma família saudável e unida; e por estar presente com a mesma. Agradecia a Deus todo santo dia, por mais um dia de vida! Olhando para Raquel, Antônio disse:

–Filha, eu vou levá-la a praia de Botafogo.

–Quando papai? – perguntou Raquel curiosa.

–Na próxima semana. As vendas estão melhorando a cada dia, e isso ajuda ainda mais!

–Que bom! – disse Débora.

–Graças a Deus! – completou Raquel; que levava a xícara de café delicadamente até a boca.
O silêncio imperou-se para que o café da manhã “corresse” livremente.


“A Fatalidade” Parte V


Neste mesmo dia após o café da manhã Antônio e a família saem para passear nos jardins extensos de Tinguá, que era quase todo coberto de flores aromáticas!
Andava de mãos dadas com Débora, enquanto Raquel corria a frente para ver os meigos animais. Seguiam o extenso horizonte em direção ao lago verde; formado pelas infindas nascentes! Param defronte ao mesmo, e deitam na grama.


Raquel corria atrás das borboletas que brincavam com as flores rasteiras; enquanto Antônio e Débora olhavam as nuvens do céu movimentar-se expressamente; levadas pelos fortíssimos ventos.


Num movimento precipitado, Raquel pisa em falso. Era um enorme precipício; que estava escondido na grama alta. Antônio e Débora correram desesperados; porque viram a filha desaparecer repentinamente. Corriam aflitos, em direção ao local que a filha sumira.


Antônio um pouco mais veloz estava à frente de Débora, quando caíra rapidamente no mesmo local que a filha. Débora caminhava cansada, já pressentira o pior.
Quando se aproximou do local, via o maior desastre de sua vida: Raquel e Antônio estavam mortos entre as rochas gigantescas. Débora chorava incansavelmente, ao ver o cadáver da filha e do marido. O coração não era o mesmo, porque estava ferido; pela dor eterna da perda dos seus entes queridos.


Não tinha motivos para continuar vivendo. No primeiro momento pensara em suicídio; mas, lembrou-se dos momentos felizes que passara ao lado da filha e do marido; e dera dois curtos passos para trás, mudando completamente de idéia; para tentar ser feliz!


Viveu o quanto pode após a morte de Raquel e Antônio, porém, fora contaminada por uma fortíssima enfermidade; que lhe matando ia aos poucos. Fora apenas três curtos anos após este trágico acontecimento e a depressão foi a sua fiel companheira. As lagrimas desciam frequentemente; quando ela se lembrava das suas adoráveis lembranças de tempos de outrora. Não tinha ninguém naquele fim de mundo, só poderia ser curada por um milagre: era inútil lutar. Não podia mais se mover, porque estava fraca. Seu corpo já estava morto, só lhe restava à alma, mas, nem esta estava conseguindo resistir.


E, não agüentava mais sofrer, e implorava desesperadamente a Deus que lhe tirasse a vida. Porém, não foi necessário porque tivera uma crise. Seus olhos viraram para cima e a boca começara a espumar. O corpo estremecia freneticamente debatendo-se contra o chão coberto por madeiras ocas.


Minutos depois morrera: triste, abandonada e acabada! Não tinha sonhos, também pudera os mortos não sonham. Talvez, o seu maior sonho poderia ser mesmo a própria morte porque não suportava mais viver sozinha...

Encerrado em 11 de abril de 2009.
Escrito por: Sanderson Vaz Dutra.

2 comentários:

Vandinha disse...

Que triste...

Sanderson Vaz Dutra disse...

Muito triste mesmo Vandinha. Um final infeliz para todos. Obrigado pela visita e pela leitura.